A única alternativa para muitos, por Dr Eurípedes

Uma vez, já com 30 anos de carreira, eu estava em um evento, em Curitiba, e veio até mim uma moça, dizendo: 'Dr Eurípedes, lembra-se de mim?'. Ela tinha uns 25 anos e trazia no colo um bebê, 'Fui sua paciente', e me falou seu nome. Sim... eu recordei.

Ela tinha sido submetida a um transplante de medula para tratamento de Anemia Aplástica, doença fatal até então em cerca de 95% dos casos. E naquele dia estava lá, comemorando, e com um filho saudável no colo. Às vezes me pergunto se os pacientes têm a dimensão da satisfação que nós, médicos, temos ao vê-los sadios, com um problema gravíssimo superado.

Esta cena, e felizmente muitas outras, foram possíveis em virtude do transplante de medula óssea, procedimento de extrema complexidade indicado para determinadas doenças do sangue, malignas e benignas, e que requer o envolvimento de médicos de até 15 especialidades. Exige alta sofisticação pois os pacientes precisam ficar em quartos isolados tecnologicamente, de tal forma que somente ar tratado entre no ambiente.

Única alternativa em alguns tipos de doenças do sangue, o tratamento é indicado a 2.500 pessoas por ano no Brasil. Destes, somente 1.600 são realizados. A falta de infra-estrutura explica mas não justifica. E este quadro precisa mudar.

A oportunidade de transplante necessita ser expandida para todos que dependem dela, e novos profissionais precisam ser capacitados e atualizados, para benefício das novas gerações. Sendo assim, investir nesta área é fazer parte de um esforço conjunto para que, cada vez mais, todos tenham a chance de lutar por sua saúde, virem moços e moças que encontramos em festas, celebrando a vida.

Doutor Eurípedes Ferreira realizou o primeiro transplante de medula óssea no Brasil, em Curitiba, em outubro de 1979. Referência na implantação de todos os serviços deste tipo de transplante no país, faz parte da equipe de Onco-Hematologia do Hospital Pequeno Príncipe, que fundou em 1967.